Domingo, 14 de Outubro de 2012

Escrever um bom argumento...

 1ª regra: o primeiro passo para redigirmos um argumento é perguntarmos: o que desejamos provar? Qual a conclusão? É preciso não esquecer que a conclusão é a afirmação para a qual estamos a fornecer razões. As afirmações que fornecem razões chamam-se premissas. Estas reconhecem-se num texto, a partir de expressões como: pois, dado que, visto que, já que, porque, entre outras. No entanto, nem sempre estes indicadores podem estar presentes de uma forma explícita, pelo que, o trabalho interpretativo não é de forma alguma simples.


2ª regra: Os argumentos curtos escrevem-se normalmente em um ou dois parágrafos. Coloque a conclusão primeiro, seguida das suas razões, ou apresente as suas premissas primeiro e retire a conclusão no fim. Em qualquer dos casos, apresente as suas ideias pela ordem que mais naturalmente revele o seu raciocínio.

De forma a identificarmos mais facilmente a conclusão, utilizam-se expressões como: logo, assim, assim sendo, deste modo, portanto, consequentemente, por isso, etc.

 

Adaptado de Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Ed. Gradiva, Lx, 1996, pp.19-21.

 

Agora que já sabemos no que é que consiste a argumentação vamos passar ao trabalho filosófico. Assim, se queremos de facto aprender a fazer filosofia, não só temos que argumentar, como também temos que saber avaliar/interpretar os argumentos de outros filósofos. Ora, isso passa, inevitavelmente, pela interpretação de textos filosóficos. Para que possamos compreender um texto temos que proceder de uma forma metodológica, temos que saber identificar o assunto, perceber a tese principal do texto, identificar os argumentos que sustentam a tese, identificar os contra-argumentos, verificar a coerência ou não dos argumentos e saber identificar a conclusão.

 

O Assunto

 

Depois de uma leitura atenta do texto há que identificar de que fala o texto, qual o tema que é nele tratado?

 

A Tese/Teoria

 

Este é o momento em que o filósofo se pronuncia sobre qual das hipóteses de resposta ao problema lhe parece a verdadeira ou, pelo menos, a mais coerente e provável.  Com efeito, em Filosofia não existem verdades absolutas, pois o seu domínio não se restringe à pura demonstração, onde a partir de premissas, segundo regras puramente formais, se deduzem conclusões. A Filosofia assenta fundamentalmente na argumentação não formal, isto é, na apresentação de razões a favor ou contra uma determinada tese.

 

 

Argumento/Argumentação

 

Depois de colocado de forma clara e rigorosa o problema a abordar e de ser apresentada a tese sobre esse problema, segue-se a tarefa mais especificamente filosófica, a exposição de argumentos.


A argumentação consiste na apresentação de razões estruturadas e coerentes que apoiem as nossas teses sobre determinado problema filosófico.


É certo que toda a gente tem opiniões, mas relativamente poucas se dão ao trabalho de analisar cuidadosamente o problema, conhecer os termos em que se põe, as diferentes teorias propostas como resposta a ele e, acima de tudo, de conhecer e compreender os argumentos que estão subjacentes a essas teorias; de ser capaz de os discutir, de lhes contrapor objeções, enfim, de refletir de uma maneira realmente filosófica, indo ao fundo das questões, explorando as razões de cada parte e formando, com base nisso, uma posição independente e informada.

 

Distinção entre validade/forma e verdade/conteúdo

 

Para analisarmos cuidadosamente um argumento, isto é, para verificarmos se o mesmo é ou não coerente, bom ou mau, uma vez que não existem verdades absolutas na filosofia, temos que saber analisá-lo.

 

Assim, dado um determinado argumento temos que o avaliar. Como é que avaliamos a validade/ valor de um argumento?

 

1º Verificamos se as suas premissas/proposições são verdadeiras – verificamos o conteúdo das premissas.


Por exemplo:       Bucareste é a capital da Roménia.

                            Os cães são mamíferos.

                            A Filosofia é uma disciplina interessante.

 

2º Verificamos se a conclusão se segue necessariamente das premissas.

 

Por exemplo:     Todos os estudantes do ensino secundário têm educação física

                            O Hugo Montes é estudante do ensino secundário

                            Logo, o Hugo Montes tem educação física

 

Se o argumento responder afirmativamente a estes dois pressupostos, estamos diante de um argumento válido e sólido. Contudo, não podemos esquecer que existem argumentos válidos com uma das premissas falsas:

 

Exemplo:         Os gatos gostam de leite

                         Mia Couto é um gato

                         Logo, Mia Couto gosta de leite (supondo que o escritor gosta de leite)

 

ou até mesmo com premissas e conclusão falsas:

 

Exemplo:        Todos os filósofos são atores de telenovela

                        Boss Ac é filósofo

                        Boss Ac é ator de telenovela,

 

pois na lógica o que garante a validade formal de um argumento é a estrutura/forma e não a verdade/conteúdo.

 

No entanto, não podemos esquecer que um argumento válido com ambas as premissas verdadeiras, jamais poderá ter uma conclusão falsa, pois a verdade das premissas deve ser preservada na conclusão.

 

Todavia, não podemos esquecer que no domínio argumentativo, no exercício filosófico, não recorremos à lógica formal, ao domínio da demonstração, mas sim ao domínio da discussão argumentativa e, aqui a maior parte das vezes os argumentos que utilizamos são verosímeis, isto é, aproximam-se da verdade.

Se assim é, que tipo de argumentos podemos encontrar num discurso argumentativo?

 

Argumentos indutivos – são argumentos que partem de premissas/proposições particulares e inferem conclusões gerais, como por exemplo: “Se todos os cisnes observados até agora são brancos, então todos os cisnes são brancos.”

“Todos os alunos da escola Secundária Gil Eanes gostam de Filosofia, logo todos os alunos gostam de Filosofia.”

Neste tipo de argumento, inválido à luz da lógica formal, dá-se um salto (lógico) do conhecido para o desconhecido, o que não permite conferir à conclusão um caráter de verdade necessária, mas apenas de probabilidade, maior ou menor, consoante o nº de casos observados. Estes argumentos são fortes ou fracos, consoante o grau de probabilidade.

 

Argumentos por analogia – são argumentos inválidos, à luz da lógica formal, mas bastante utilizados na argumentação. Consistem numa comparação entre objetos diferentes e inferem de certas semelhanças outras semelhanças. Partem do pressuposto de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspetos, então também serão noutros. Este tipo de argumento pode ser classificado de forte ou fraco consoante a comparação.

 

Exemplo: “Os soldados de um batalhão são decididos, corajosos e cooperantes. Uma equipa de futebol é como um batalhão. Um batalhão tem de obedecer ao comandante. Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões do treinador para poderem atingir os seus objetivos.

 

 

Contra-argumentação

 

O trabalho filosófico não se reduz a argumentar a favor das nossas teses. Mesmo quando fazemos isso, faz parte de uma boa argumentação antecipar as críticas aos nossos argumentos, prever possíveis objeções e, se possível, responder-lhes. Assim, o termo “argumentação” inclui não só a defesa das nossas ideias, mas também, a contestação de posições alternativas ou contrárias.

 

A Conclusão

 

Depois de especificarmos a posição que defendemos e argumentarmos favoravelmente à mesma, chegou o momento de apresentarmos a nossa conclusão. A conclusão pode ser um reforço da nossa tese ou um aprofundamento da mesma.

 

Baseado no Manual de Filosofia 10º, Ática, p.p.30 – 36.

(colaboração da  profª. Carla Sardinha)



publicado por ideias-em-movimento às 22:32
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