Domingo, 11 de Março de 2012

A RELATIVIDADE DOS VALORES E COSTUMES






Discussão sobre a existência ou não de  ideias ou valores comuns a todos os seres humanos


M: - (apontando a notícia do jornal) Esta gente esfola--se a discutir se as mulheres devem ou não ter a cara tapada. Pergunto se há alguma coisa em que as pessoas se possam entender.


F: - Estás a pôr a questão de saber se há ou não uma Razão Universal.


M: - Com esse palavrão o problema torna-se mais importante?


F: - Não. Serve para lembrar que não foste o único a pôr tais questões, que elas já foram e estão a ser debatidas por filósofos, políticos ...


M: - Não sei porque insistes em me arrastar para a filosofia, se tu mesmo reconheces que as suas questões (que, para mim, nem têm sentido) nunca estão encerradas.


F: - Dás-me a entender que a questão já está encerrada por ti. Mas a questão tem pleno sentido: "Razão Universal" seria uma razão comum a todos os homens.


M: - Sabes bem que tal coisa não existe. Cada cabeça cada sentença. Como podes falar de razão universal depois de teres assistido a uma campanha eleitoral? Ou a fracassos de tentativas de paz? Ou de já saberes que cada povo tem as suas ideias?


F: -A questão não está resolvida. E posso mostrar que não aceitas algumas consequências da tua tese.


M: - É impressionante essa pretensão de saberes mais das minhas ideias do que eu próprio...


F: - Imagina que estás a fazer férias na Trutilândia...


M: -Onde?!


F: - Na Trutilândia. Não existe mas podia existir. Pouco depois de chegares vais preso porque teassoaste a um lenço verde.


M: - Como é que isso pode ser?


F: - É contra a religião deles conspurcar tecidos verdes e ao assoares-te...


M: - Estou a ver. E depois?


F: - Depois certamente te revoltavas dizendo que tal princípio religioso é aberrante e que fere os mais elementares princípios do bom senso ...


M: - E não é verdade?


F: - Talvez. Mas o caso é que estás a admitir que há algo de básico, o "bom senso", que se deveria verificar em todos os povos e indivíduos seja lá qual for a sua educação e história.


M: - Quer dizer - inventas uma história aberrante para concluíres que eu estou enganado!


F: - Muitas histórias destas ocorrem e continuam a ocorrer. Alguns povos achariam absurdo andares vestido com este calor...


M: - Isso apenas prova que os povos têm ideias totalmente diferentes e que, por isso, não devemos pensar que as nossas devem servir de padrão.


F: - Isso é bonito e estou disposto a concordar na maior parte do tempo. Mas há problemas...


M: - Claro, tu tinhas de filosofar esta coisa...


F: - Que fazes ao exemplo do lenço verde? Toleras? E, se não há limites para a tolerância, como podes exigir a um qualquer povo que respeite os direitos humanos?


M: - Deve, de facto, haver limites...


F: - Pois. E esses limites ou se baseiam em princípios racionais comuns a todos os homens ou são impostos por um povo ou cultura dominante e estamos perante um caso de intolerância.


M:- Estás a sugerir que as decisões da ONU contra os atentados aos direitos humanos são casos de intolerância?


F: - Não sei. Claro que a minha tendência é dizer que não. Mas não sei se estou a falar apenas do ponto de vista de uma cultura que quer impor os seus valores a outras...


M: - Bravo! De tanto pensar não serás capaz de dar um passo em frente porque concluis sempre que podes estar enganado!


F: - Não. Sobre o problema, sei, para começar, que se não defendo a existência de uma razão universal tenho uma base para a tolerância mas não sei como encontrar os limites desta; ganho essa base se defendo a sua existência mas corro o risco de querer impor a minha.


M: - Não sabes o que hás-de fazer!


F: - Sei que devo agir tendo em mente os limites das minhas opiniões. E sei que podemos procurar alternativas: pode-se, progressiva e lentamente, procurar construir essa razão comum por uma espécie de contrato. Afinal quando fazemos acordos comerciais estabelecemos condições que devemos respeitar. Porque é que a ONU ou outras organizações internacionais não hão-de ter um futuro semelhante?


M: - Porque os povos, como as pessoas, procuram, em primeiro lugar, defender os seus interesses.

 

                                                                                                                                                                              Adapt. de Luis Rodrigues


... Serias capaz de continuar este diálogo argumentativo? Se fosses o interlocutor  F qual seria a tua próxima intervenção? Publica-a!




publicado por ideias-em-movimento às 22:52
Neste blog, as ideias têm que estar em movimento, sujeitas a partilha, é esta a condição. Podemos fazê-lo de multiplas formas, através do comentário, discussão e debate, questionando a nossa realidade para a perceber melhor.
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