Domingo, 14 de Outubro de 2012
 

  Exercício nº 1

 “Sócrates – [A nossa discussão] Resume-se de facto, a isto: saber ou ignorar quem é feliz e quem não é. Retomando o ponto em debate, julgas que se pode ser feliz praticando o mal e vivendo na injustiça, uma vez que reconheces, por um lado, a injustiça de Arquelau e contudo, por outro lado, declaras que ele é feliz. É bem esta opinião que devemos considerar como tua?

Polo – Perfeitamente.

Sócrates – Eu sustento, pelo contrário, que isso é impossível. Aí tens o primeiro ponto. Posto isto, vejamos: será uma felicidade para o culpado pagar a sua falta e sofrer um castigo?

Polo – De forma alguma, porque com isso seria ainda mais infeliz.

Sócrates – Então, em teu entender, o culpado será feliz se não expiar a sua falta?

Polo – Certamente.

Sócrates – No meu entender, Polo, o homem culpado, tal como o injusto, é infeliz em qualquer caso, mas é-o, sobretudo, se não pagar as suas faltas e não sofrer o respectivo castigo; é-o menos, pelo contrário, se as pagar e se for castigado pelos deuses e pelos homens.”                                                                                                                                                                 Platão, Górgias, Lisboa Editora, 1997, p.83

    

  1. Identifica o tema que é objeto de discussão entre Sócrates e Polo.

  2. Identifica a tese defendida por Polo.

  3. Identifica a tese defendida por Sócrates.

  4. Dá um título ao texto.

  5. Com base na tese de Sócrates, diz quais são as premissas/razões que sustentam a sua conclusão.

 

Exercício 2

 

“Uma das mais nobres qualidades dos seres humanos é, na minha opinião e sem qualquer dúvida, o altruísmo[1]. (...)

Não são necessários muitos segundos para qualquer um de nós entender a importância que esta característica da natureza humana tem na nossa vida. Por exemplo, no meu caso em particular, se hoje me encontro nos EUA a estudar, isso deve-se ao altruísmo de um indivíduo (Calouste Gulbenkien) que decidiu deixar a sua enorme fortuna para a ajuda de outros, possibilitando dessa forma a oportunidade que hoje tenho. É também o altruísmo que faz com que, todos os dias, milhões de bombeiros, em todo o mundo, arrisquem as suas vidas, tentando salvar outras.

A atitude altruísta faz com que muitas pessoas sejam dadoras de sangue por toda a parte do globo. Em suma, os exemplos são mais do que muitos e acho que ninguém pode afirmar que nunca foi beneficiado por pelo menos uma das mais diversas formas de altruísmo.(...) Assim, penso que o altruísmo é fundamental para o bem estar de milhares de pessoas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            (Adaptação de Eduardo Alexandre Silva, Público)

          1. Identifica o tema presente no texto.

          2. Enuncia a tese do autor.

          3. Apresenta os argumentos que apoiam a tese do autor.

          4. Identifica a conclusão do autor.

 

Exercício 3

 

“Consideremos, agora, o que é uma Igreja. Considero que uma Igreja é uma sociedade de homens, que se juntam livremente e de comum acordo, para, publicamente, prestarem culto a Deus, do modo que julgam que Lhe seja agradável a Ele e adequado à salvação das suas almas. Afirmo que se trata de uma sociedade livre e voluntária. Ninguém nasce membro de uma Igreja; se assim fosse, a religião dos pais chegaria às crianças, pelos mesmos direitos hereditários que os bens temporais, e cada um teria um credo pelo mesmo título pelo qual detém as suas terras, o que constitui o maior absurdo que se possa imaginar. Eis, então, como se apresenta este assunto: nenhum homem, por natureza, está vinculado a uma Igreja ou seita em particular, mas cada um se junta voluntariamente à sociedade na qual pensa encontrar a profissão e o culto que mais apraz a Deus. Como a esperança da salvação foi a única causa da sua entrada para tal comunhão, ela será também a única razão para aí permanecer. Se vier a descobrir algo de errado na doutrina ou de incongruente no culto da sociedade à qual se juntou, por que razão não é ele livre de sair do mesmo modo como entrou? Nenhum membro de uma sociedade religiosa pode ser ligado a ela por outros laços que não os que derivam de uma certa expectativa de vida eterna. Uma Igreja é, pois, uma sociedade de membros que voluntariamente se unem para alcançar esse fim.”                                                                                                                    J. Locke, Carta sobre a Tolerância, Lisboa Editora, Lisboa, p.63.

   1.Identifica o tema tratado no texto.

   2. Identifica a tese que o texto apresenta.

   3. O autor fundamenta a sua tese em argumentos. Identifica-os.

   4. Apresenta a conclusão que podemos inferir a partir da argumentação do autor.


Exercício 4


Imagina que tens que escrever um texto argumentativo para o blog da escola defendendo a necessidade de uma responsabilidade ecológica. Redige esse texto, apresentando pelo menos dois bons argumentos. Na redação do teu texto não te esqueças de:

 

  1. Formular uma questão/problema à qual se pretende dar uma resposta;

  2. Apresentar uma tese/teoria demonstre a nossa posição relativamente ao problema;

  3. Desenvolver argumentos que sustentem a nossa tese;

  4. Verificar a coerência dos nossos argumentos;

  5. Apresentar a conclusão.

[1] Altruísmo – sentimento de amor, interesse e dedicação por outrem.
(colaboração da  profª. Carla Sardinha)


publicado por ideias-em-movimento às 22:35

Escrever um bom argumento...

 1ª regra: o primeiro passo para redigirmos um argumento é perguntarmos: o que desejamos provar? Qual a conclusão? É preciso não esquecer que a conclusão é a afirmação para a qual estamos a fornecer razões. As afirmações que fornecem razões chamam-se premissas. Estas reconhecem-se num texto, a partir de expressões como: pois, dado que, visto que, já que, porque, entre outras. No entanto, nem sempre estes indicadores podem estar presentes de uma forma explícita, pelo que, o trabalho interpretativo não é de forma alguma simples.


2ª regra: Os argumentos curtos escrevem-se normalmente em um ou dois parágrafos. Coloque a conclusão primeiro, seguida das suas razões, ou apresente as suas premissas primeiro e retire a conclusão no fim. Em qualquer dos casos, apresente as suas ideias pela ordem que mais naturalmente revele o seu raciocínio.

De forma a identificarmos mais facilmente a conclusão, utilizam-se expressões como: logo, assim, assim sendo, deste modo, portanto, consequentemente, por isso, etc.

 

Adaptado de Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Ed. Gradiva, Lx, 1996, pp.19-21.

 

Agora que já sabemos no que é que consiste a argumentação vamos passar ao trabalho filosófico. Assim, se queremos de facto aprender a fazer filosofia, não só temos que argumentar, como também temos que saber avaliar/interpretar os argumentos de outros filósofos. Ora, isso passa, inevitavelmente, pela interpretação de textos filosóficos. Para que possamos compreender um texto temos que proceder de uma forma metodológica, temos que saber identificar o assunto, perceber a tese principal do texto, identificar os argumentos que sustentam a tese, identificar os contra-argumentos, verificar a coerência ou não dos argumentos e saber identificar a conclusão.

 

O Assunto

 

Depois de uma leitura atenta do texto há que identificar de que fala o texto, qual o tema que é nele tratado?

 

A Tese/Teoria

 

Este é o momento em que o filósofo se pronuncia sobre qual das hipóteses de resposta ao problema lhe parece a verdadeira ou, pelo menos, a mais coerente e provável.  Com efeito, em Filosofia não existem verdades absolutas, pois o seu domínio não se restringe à pura demonstração, onde a partir de premissas, segundo regras puramente formais, se deduzem conclusões. A Filosofia assenta fundamentalmente na argumentação não formal, isto é, na apresentação de razões a favor ou contra uma determinada tese.

 

 

Argumento/Argumentação

 

Depois de colocado de forma clara e rigorosa o problema a abordar e de ser apresentada a tese sobre esse problema, segue-se a tarefa mais especificamente filosófica, a exposição de argumentos.


A argumentação consiste na apresentação de razões estruturadas e coerentes que apoiem as nossas teses sobre determinado problema filosófico.


É certo que toda a gente tem opiniões, mas relativamente poucas se dão ao trabalho de analisar cuidadosamente o problema, conhecer os termos em que se põe, as diferentes teorias propostas como resposta a ele e, acima de tudo, de conhecer e compreender os argumentos que estão subjacentes a essas teorias; de ser capaz de os discutir, de lhes contrapor objeções, enfim, de refletir de uma maneira realmente filosófica, indo ao fundo das questões, explorando as razões de cada parte e formando, com base nisso, uma posição independente e informada.

 

Distinção entre validade/forma e verdade/conteúdo

 

Para analisarmos cuidadosamente um argumento, isto é, para verificarmos se o mesmo é ou não coerente, bom ou mau, uma vez que não existem verdades absolutas na filosofia, temos que saber analisá-lo.

 

Assim, dado um determinado argumento temos que o avaliar. Como é que avaliamos a validade/ valor de um argumento?

 

1º Verificamos se as suas premissas/proposições são verdadeiras – verificamos o conteúdo das premissas.


Por exemplo:       Bucareste é a capital da Roménia.

                            Os cães são mamíferos.

                            A Filosofia é uma disciplina interessante.

 

2º Verificamos se a conclusão se segue necessariamente das premissas.

 

Por exemplo:     Todos os estudantes do ensino secundário têm educação física

                            O Hugo Montes é estudante do ensino secundário

                            Logo, o Hugo Montes tem educação física

 

Se o argumento responder afirmativamente a estes dois pressupostos, estamos diante de um argumento válido e sólido. Contudo, não podemos esquecer que existem argumentos válidos com uma das premissas falsas:

 

Exemplo:         Os gatos gostam de leite

                         Mia Couto é um gato

                         Logo, Mia Couto gosta de leite (supondo que o escritor gosta de leite)

 

ou até mesmo com premissas e conclusão falsas:

 

Exemplo:        Todos os filósofos são atores de telenovela

                        Boss Ac é filósofo

                        Boss Ac é ator de telenovela,

 

pois na lógica o que garante a validade formal de um argumento é a estrutura/forma e não a verdade/conteúdo.

 

No entanto, não podemos esquecer que um argumento válido com ambas as premissas verdadeiras, jamais poderá ter uma conclusão falsa, pois a verdade das premissas deve ser preservada na conclusão.

 

Todavia, não podemos esquecer que no domínio argumentativo, no exercício filosófico, não recorremos à lógica formal, ao domínio da demonstração, mas sim ao domínio da discussão argumentativa e, aqui a maior parte das vezes os argumentos que utilizamos são verosímeis, isto é, aproximam-se da verdade.

Se assim é, que tipo de argumentos podemos encontrar num discurso argumentativo?

 

Argumentos indutivos – são argumentos que partem de premissas/proposições particulares e inferem conclusões gerais, como por exemplo: “Se todos os cisnes observados até agora são brancos, então todos os cisnes são brancos.”

“Todos os alunos da escola Secundária Gil Eanes gostam de Filosofia, logo todos os alunos gostam de Filosofia.”

Neste tipo de argumento, inválido à luz da lógica formal, dá-se um salto (lógico) do conhecido para o desconhecido, o que não permite conferir à conclusão um caráter de verdade necessária, mas apenas de probabilidade, maior ou menor, consoante o nº de casos observados. Estes argumentos são fortes ou fracos, consoante o grau de probabilidade.

 

Argumentos por analogia – são argumentos inválidos, à luz da lógica formal, mas bastante utilizados na argumentação. Consistem numa comparação entre objetos diferentes e inferem de certas semelhanças outras semelhanças. Partem do pressuposto de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspetos, então também serão noutros. Este tipo de argumento pode ser classificado de forte ou fraco consoante a comparação.

 

Exemplo: “Os soldados de um batalhão são decididos, corajosos e cooperantes. Uma equipa de futebol é como um batalhão. Um batalhão tem de obedecer ao comandante. Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões do treinador para poderem atingir os seus objetivos.

 

 

Contra-argumentação

 

O trabalho filosófico não se reduz a argumentar a favor das nossas teses. Mesmo quando fazemos isso, faz parte de uma boa argumentação antecipar as críticas aos nossos argumentos, prever possíveis objeções e, se possível, responder-lhes. Assim, o termo “argumentação” inclui não só a defesa das nossas ideias, mas também, a contestação de posições alternativas ou contrárias.

 

A Conclusão

 

Depois de especificarmos a posição que defendemos e argumentarmos favoravelmente à mesma, chegou o momento de apresentarmos a nossa conclusão. A conclusão pode ser um reforço da nossa tese ou um aprofundamento da mesma.

 

Baseado no Manual de Filosofia 10º, Ática, p.p.30 – 36.

(colaboração da  profª. Carla Sardinha)



publicado por ideias-em-movimento às 22:32

“A filosofia é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas, ou fazem as duas coisas.”

 

Nigel Warburton, Elementos Básicos da Filosofia, Ed. Gradiva, Lx, 1997, pp. 19-20.

 

            Se a atividade dos filósofos consiste na reflexão acerca de determinadas questões e esta se presentifica na argumentação, então cabe-nos agora, enquanto aprendizes de filosofia, saber o que é argumentar, saber reconhecer argumentos em textos e finalmente, saber escrever um texto argumentativo.

 

            Filosofia e Argumentação

 

            “Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons.

            Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. [...]

            Uma vez chegados a uma conclusão baseada em boas razões, os argumentos são a forma pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados suficientes para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião.”

 

Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Ed. Gradiva, Lx, 1996, pp. 14-15.

 

            Depois de uma leitura atenta do texto podemos concluir que a argumentação consiste na apresentação de argumentos, isto é, num conjunto de razões estruturadas e coerentes, que fundamentem/justifiquem as nossas conclusões.

 

          O que são argumentos?

 

      “Algumas pessoas pensam que argumentar é apenas expor os seus argumentos de uma forma nova. É por isso que muita gente considera que argumentar é desagradável e inútil, confundindo argumentar com discutir. Dizemos por vezes que discutir é uma espécie de luta verbal. Contudo, argumentar não é nada disso.

[...] “Argumentar” quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis a uma conclusão. Argumentar não é apenas a afirmação de determinado ponto de vista nem uma discussão. Os argumentos são tentativas de sustentar certos pontos de vista com razões. Neste sentido, os argumentos não são inúteis; na verdade são essenciais.

Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque constituem uma forma de tentarmos descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons.

Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. [...] Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma conclusão baseada em boas razões, os argumentos são a forma pela qual a explicamos e a defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados suficientes para que as outras pessoas possam formar a sua opinião.”

 

Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Edições Gradiva, Lisboa, 1996, pp. 13-14.

 

(seleção de  textos profª. Carla Sardinha)



publicado por ideias-em-movimento às 22:32
Sábado, 25 de Agosto de 2012

Continuando a tentar perceber frações desta realidade em que estamos mergulhados, vamos agora tentar compreender como funciona o dinheiro e, ao dominar essa compreensão, refletir como podemos libertar-nos dos problemas que ele nos pode gerar.

 

 



publicado por ideias-em-movimento às 16:04

Mais uma vez a a Filosofia a meter-se com os problemas!... Não era melhor ficar no cantinho das palavras escritas nos livros dos grandes filosofos, na calma e serenidade das livrarias e bilbiotecas?! Não, em vez disso, insiste em implicar com a realidade... e não se rende! Porque tem ela esta estranha mania?

 

 

 



publicado por ideias-em-movimento às 15:24
Domingo, 11 de Março de 2012

A RELATIVIDADE DOS VALORES E COSTUMES






Discussão sobre a existência ou não de  ideias ou valores comuns a todos os seres humanos


M: - (apontando a notícia do jornal) Esta gente esfola--se a discutir se as mulheres devem ou não ter a cara tapada. Pergunto se há alguma coisa em que as pessoas se possam entender.


F: - Estás a pôr a questão de saber se há ou não uma Razão Universal.


M: - Com esse palavrão o problema torna-se mais importante?


F: - Não. Serve para lembrar que não foste o único a pôr tais questões, que elas já foram e estão a ser debatidas por filósofos, políticos ...


M: - Não sei porque insistes em me arrastar para a filosofia, se tu mesmo reconheces que as suas questões (que, para mim, nem têm sentido) nunca estão encerradas.


F: - Dás-me a entender que a questão já está encerrada por ti. Mas a questão tem pleno sentido: "Razão Universal" seria uma razão comum a todos os homens.


M: - Sabes bem que tal coisa não existe. Cada cabeça cada sentença. Como podes falar de razão universal depois de teres assistido a uma campanha eleitoral? Ou a fracassos de tentativas de paz? Ou de já saberes que cada povo tem as suas ideias?


F: -A questão não está resolvida. E posso mostrar que não aceitas algumas consequências da tua tese.


M: - É impressionante essa pretensão de saberes mais das minhas ideias do que eu próprio...


F: - Imagina que estás a fazer férias na Trutilândia...


M: -Onde?!


F: - Na Trutilândia. Não existe mas podia existir. Pouco depois de chegares vais preso porque teassoaste a um lenço verde.


M: - Como é que isso pode ser?


F: - É contra a religião deles conspurcar tecidos verdes e ao assoares-te...


M: - Estou a ver. E depois?


F: - Depois certamente te revoltavas dizendo que tal princípio religioso é aberrante e que fere os mais elementares princípios do bom senso ...


M: - E não é verdade?


F: - Talvez. Mas o caso é que estás a admitir que há algo de básico, o "bom senso", que se deveria verificar em todos os povos e indivíduos seja lá qual for a sua educação e história.


M: - Quer dizer - inventas uma história aberrante para concluíres que eu estou enganado!


F: - Muitas histórias destas ocorrem e continuam a ocorrer. Alguns povos achariam absurdo andares vestido com este calor...


M: - Isso apenas prova que os povos têm ideias totalmente diferentes e que, por isso, não devemos pensar que as nossas devem servir de padrão.


F: - Isso é bonito e estou disposto a concordar na maior parte do tempo. Mas há problemas...


M: - Claro, tu tinhas de filosofar esta coisa...


F: - Que fazes ao exemplo do lenço verde? Toleras? E, se não há limites para a tolerância, como podes exigir a um qualquer povo que respeite os direitos humanos?


M: - Deve, de facto, haver limites...


F: - Pois. E esses limites ou se baseiam em princípios racionais comuns a todos os homens ou são impostos por um povo ou cultura dominante e estamos perante um caso de intolerância.


M:- Estás a sugerir que as decisões da ONU contra os atentados aos direitos humanos são casos de intolerância?


F: - Não sei. Claro que a minha tendência é dizer que não. Mas não sei se estou a falar apenas do ponto de vista de uma cultura que quer impor os seus valores a outras...


M: - Bravo! De tanto pensar não serás capaz de dar um passo em frente porque concluis sempre que podes estar enganado!


F: - Não. Sobre o problema, sei, para começar, que se não defendo a existência de uma razão universal tenho uma base para a tolerância mas não sei como encontrar os limites desta; ganho essa base se defendo a sua existência mas corro o risco de querer impor a minha.


M: - Não sabes o que hás-de fazer!


F: - Sei que devo agir tendo em mente os limites das minhas opiniões. E sei que podemos procurar alternativas: pode-se, progressiva e lentamente, procurar construir essa razão comum por uma espécie de contrato. Afinal quando fazemos acordos comerciais estabelecemos condições que devemos respeitar. Porque é que a ONU ou outras organizações internacionais não hão-de ter um futuro semelhante?


M: - Porque os povos, como as pessoas, procuram, em primeiro lugar, defender os seus interesses.

 

                                                                                                                                                                              Adapt. de Luis Rodrigues


... Serias capaz de continuar este diálogo argumentativo? Se fosses o interlocutor  F qual seria a tua próxima intervenção? Publica-a!




publicado por ideias-em-movimento às 22:52
Domingo, 26 de Fevereiro de 2012
 
 
 

«(…) A ética não é um mero conjunto mais ou menos arbitrário de códigos de conduta;  (…) quem se opõe ao relativismo moral considera que as acções nem sempre são correctas ou incorrectas em função do que as pessoas consideram, e portanto que a maior parte das pessoas de uma dada cultura pode considerar que, por exemplo, excluir as mulheres e negros seja moralmente correcto, apesar de na realidade isso não ser moralmente correcto (…).

Assim, o relativismo cultural é a ideia de que todas acções são correctas ou incorrectas consoante são consideradas correctas ou incorrectas numa dada cultura. A negação disto é a ideia de que nem todas as acções são correctas ou incorrectas em função do que as pessoas pensam. O relativista nunca vê diferença entre considerar-se numa dada cultura que algo é moralmente correcto e algo ser moralmente correcto, ao passo que o seu opositor defende que pelo menos em alguns casos existe tal diferença.

O relativista moral tem de defender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pelas Nações Unidas no dia 10 de Dezembro de 1948, não exprime princípios éticos universais em qualquer sentido robusto do termo. Apesar de esta declaração ter sido aprovada por unanimidade nas Nações Unidas (com a abstenção de alguns países, como a União Soviética, a Polónia e a África do Sul), o relativista cultural terá de defender que a violação de qualquer dos direitos consagrados na Declaração é eticamente permissível desde que seja permissível numa dada cultura. Assim, se numa dada
cultura se considera que é correcto discriminar as pessoas com base na origem étnica ou no sexo, violando o artigo segundo da Declaração, o relativista tem de aceitar que nessa cultura é correcto fazer tal coisa e que a Declaração se
limita a exprimir uma convicção diferente.

Muitas pessoas que aceitam o relativismo cultural rejeitam a ideia de que é eticamente permissível violar qualquer um dos
direitos humanos consagrados na Declaração. Mas estas duas ideias são incompatíveis. O relativismo cultural é incompatível com a ideia de direitos humanos universais.

(…) O debate ético não é factual, nem diz respeito à verificação de factos. Diz respeito, antes, à argumentação, à apresentação de razões, cuidadosamente pensadas e pesadas. E por isso é largamente irrelevante que existam desacordos morais entre culturas — porque as pessoas enganam-se ao raciocinar. Pior: muitos desses enganos são mal-intencionados, pois são interesseiros. Como comecei por dizer, não acredito que algum alemão pudesse honestamente pensar que os judeus eram sub-humanos — mas era proveitoso pensar tal coisa e por isso tudo o que parecesse justificar tal ideia era aceite sem mais discussão.

Assim, perante a diversidade de comportamentos tidos como morais em diferentes sociedades,  devemos perguntar que razões há a favor ou contra tais comportamentos. E a procura dessas razões não pode ser meramente a reafirmação dos preconceitos culturais da nossa própria cultura. É preciso procurar essas razões (…) procurando genuinamente
saber que razões há para aceitar ou rejeitar que um dado comportamento é imoral. A cada passo temos de ver se não estamos a fazer confusões ou apenas a defender o que nos interessa defender, por qualquer motivo injustificável
abertamente.  (...)»

Desidério Murcho, in  Crítica (revista de Filosofia online)

 

 

Tarefas:

  1. Identifica o tema (problemática) abordado no texto;
  2. Esclarece a tese defendida pelo autor;
  3. Explicita os argumentos contra o relativismo cultural;
  4. Esclarece a posição do autor sobre o objectivismo ético-moral;
  5. Apresenta criticamente a tua perspectiva sobre a relação entre a diversidade cultural e a objectividade ético-moral.

BOM TRABALHO! 

 

 

 
  


publicado por ideias-em-movimento às 17:49
Domingo, 08 de Janeiro de 2012

Iniciado em 2008, o Movimento Zeitgeist "é formado por pessoas que advogam a sustentabilidade, organizadas numa rede global, através de grupos nacionais e grupos regionais, com acções de sensibilização, equipas de projecto, entre outros eventos". (Peter Joseph | Roxanne Meadows | Jacque Fresco).

  

 Neste documentário podemos assistir a uma reflexão profunda e objetiva sobre o estado da realidade em que nos encontramos e sobre o que está ao nosso alcance fazer para que ainda possamos recuperar o equilibrio e a sustentabilidade natural e social e humana. No epicentro desta problemática está o Homem que concebe e executa, responsável portanto pelos acontecimentos em curso. Questiona-se até que ponto a sociedade vegeta num estado de sono dogmático, dominado por um sistema sócio-económico em torno do qual giram todos os problemas com que agora nos defrontamos; até que ponto somos uma massa acrítica que se deixa dominar pelas condicionantes deterministas das leis do mercado que nos deixamos impor, a partir de lideres indiferentes aos problemas que geram nos outros. Terá o nosso livre arbítrio a lucidez, a força e a eficácia necessárias para se impor a este determinismo dominador?

 

O objectivo principal do Movimento Zeitgeist é o "reconhecimento de que a maioria dos problemas sociais que afligem o Homem, neste momento, não são unicamente o resultado de corrupção institucional, de escassez, de uma estratégia política, de uma falha inerente à "natureza humana", ou outras hipóteses normalmente apontadas pela comunidade. Ao contrário, o Movimento reconhece que questões como a pobreza, a corrupção, o colapso das instituições, os sem-abrigo, a guerra, a fome e outras são "sintomas" e consequências de uma estrutura social ultrapassada que importa mudar".  (Peter Joseph | Roxanne Meadows | Jacque Fresco).

 

 Neste contexto, e a propósito da ação humana aqui em análise,  conseguirá o homem,  inverter o rumo que estamos a levar  ou, pelo contrário, é ele próprio prisioneiro conformado dos sistemas deterministas que ajudou a sedimentar?  Quem ganhará este jogo perigoso: o determinismo inerente às leis do sistema social, político e económico, ou a consciência livre e informada, aliada à vontade e capacidade de mudança?

 

 

Em parte, ao nível da consciência de massas, predominam as condicionantes determistas na ação humana, numa relação de causalidade direta. Porém, este nível de consciência pode vir a ser modificado por força do livre-arbítrio, através de minorias informadas, inconformadas e conscientes da necessidade de mudança que terão a possibilidade de educar as novas gerações para novas atitudes, de acordo com uma perceção sustentável e equilibrada da relação do homem com a sociedade em que vive e com o planeta que habita.

 

 

 

 

"Está a desenvolver-se uma nova consciência que vê a Terra

 como um único organismo e que reconhece que um organismo

 em guerra consigo mesmo está condenado. Somos um planeta.”

 

Carl Sagan

 

 

 

Autor: Peter Joseph

Data: Janeiro 2011
Duração: 2 horas e 41 minutos
 
 
 
Tarefa: Desenvolve um pequena reflexão critíca sobre o determinismo, o livre-arbítrio e o compatibilismo,  tendo em conta:
  1. o modo como te sentes determinado pelo sistema social, político e económico em que vives; (consumismo, manipulação publicitária, etc.)
  2. o que gostarias de mudar através do teu livre-arbítrio;
  3. como poderias atuar para mudar;
  4. o que estaria ao teu alcance realizar de fato.

 



publicado por ideias-em-movimento às 14:04
Segunda-feira, 28 de Novembro de 2011

Livre-arbítrio ou determinismo?

Embora façamos homenagens verbais ao nosso amor ao livre-arbítrio, na hora da verdade agarramo-nos ao determinismo para nos salvarmos. (…) Assim o fazem todos os criminosos que utilizam a defesa de insanidade ou de responsabilidade diminuída. Assim o fazem todos os cônjuges ciumentos que utilizam a defesa da insanidade temporária depois de terem assassinado o parceiro infiel. Assim o faz o parceiro infiel quando justifica a infidelidade. Assim o fazem todos os grandes empresários que utilizam a culpa da doença de Alzheimer quando acusados de fraude contra os acionistas.

 

Assim o faz uma criança no recreio ao dizer que um amigo o obrigou a fazê-lo. Assim o faz cada um de nós quando voluntariamente alinhamos com uma sugestão subtil do terapeuta de que devemos culpar os nossos pais pela nossa infelicidade actual. Assim o faz um político que culpa as condições sociais pela criminalidade da zona. (…) Assim o fazem todas as pessoas que consultam o horóscopo. Em cada caso existe um abraço voluntário, feliz e agradecido ao determinismo. Longe de amarmos o livre-arbítrio, parecemos ser uma espécie que positivamente se precipita para o entregar (ao tribunal) sempre que pode.



Adaptação de Matt Ridley, Genoma, Gradiva

 

 

 

 
Para os meus alunos do 10º ano:
 
Vamos lá aplicar alguns conhecimentos. Comecemos por: 
 
    1. arranjar coragem;
    2. analisar os conteúdos do texto e do vídeo;
    3. esclarecer dúvidas (usando o comentário);
    4. enunciar o problema em análise;
    5. definir a/as tese/s assumida/s;
    6. identificar os argumentos que sustentam a/s tese/s assumida/s.
    7. arriscar expôr uma posição própria sobre o assunto.
 

Por agora, se conseguirem chegar ao ponto 3, já fico satisfeito. O resto pode ir sendo feito até ao final do ano letivo, de acordo com o vosso ritmo e disponibilidade. Bom trabalho!

 

 



publicado por ideias-em-movimento às 23:20
Domingo, 27 de Novembro de 2011

O facebook e a proteção de dados

 

Um assunto de interesse geral que pode interessar aos mais incautos relativamente aos dados que aí são publicados ou partilhados. A ideia de que o facebook se trata apenas de um meio de troca de fotos ou mensagens ou outros recursos comunicativos, num ambiente virtual socialmente estimulante, é, no minimo, uma ideia algo ingénua. Com efeito, as informações que aí são publicadas, passam a integrar um gigante banco de dados suscetivel de ser usado para muitas finalidades e durante periodos de tempo indefinidos. Um assunto que merece a nossa reflexão no sentido de uma melhor gestão dos dados que aí disponibilizamos, evitanto riscos ou problemas relativamente ao uso que poderão fazer das informações que aí se publicam.

 

 

 

 

 



publicado por ideias-em-movimento às 21:48
Neste blog, as ideias têm que estar em movimento, sujeitas a partilha, é esta a condição. Podemos fazê-lo de multiplas formas, através do comentário, discussão e debate, questionando a nossa realidade para a perceber melhor.
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